quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Livre pensar e pensar livre


O livre pensar não é um pensar livre.
E isso não é um jogo de palavras. Nada contra os jogos. Pelo contrário, eles fazem parte da vida. Mas vamos pensar um pouco. Será que nosso pensar é livre? Primeiro tenho que submeter aquilo que passa por minha cabeça ao círculo de ferro da gramática para torná-la compreensível para o outro. E nisso pensamento perde sua originalidade para que o outro possa compartilhar das minhas idéias que, com isso, deixam de ser nossas. Mas o outro ao ter acesso à mediação das palavras procede à necessária interpretação para que possa compreendê-las. E com isso as idéias passam a ser do outro. E o outro não tem acesso ao meu pensamento, que teve que se aprisionar à teia de palavras para que fosse compreendido. Mas o outro acredita que me compreendeu e eu acredito que o outro me compreendeu, quando em verdade eu tive que concretizar as idéias para que fossem decodificadas pelo outro e, pela seu pensamento, transformado em idéias dele, do outro, para serem compreendidas. Nisso eu estou me colocando e o outro também está se colocando. E ambos temos que abdicar de nosso pensar livre para que a comunicação entre nós seja possível. E se nos reportamos a algum evento, temos que transformá-lo em fato, revestindo-o outra vez por uma teia de palavras e, com isso, interpretando-o necessariamente. E novamente o outro terá que decodificar aquilo que entendo como fato para compreendê-lo. Isso porque estamos submersos no mundo material e como matéria interagimos com ele de forma inteligente, consciente ou não. É a nossa inteligência que permite nossa apreensão dos eventos, a transformação dos eventos em fatos para que assim possam ser apreendidos pelo outro que repetirá o mesmo processo. E como não percebemos o mesmo evento, mas um ângulo específico do mesmo, ao tomar a iniciativa da comunicação dou minha versão daquilo que considero fato. E se o outro admitir que esse fato está presente em seu campo de percepção e compreensão, admitirá como verdadeiro. Caso contrário, oporá obstáculos. Pois seu ângulo é diferente do meu. Não há dois ângulos coincidentes no universo. Cada um percebe de seu ângulo. Por isso, não há uma mesma percepção dos eventos. Admitir os fatos como algo objetivo é confundir fatos e eventos. E não obstante isso construímos um mundo objetivo e compartilhado entre nós, intervindo no mundo material e deixando o mundo material intervir em nós. Nesse processo construímos e somos construídos. Não há uma realidade puramente objetiva. Não há uma realidade puramente subjetiva. A realidade compartilhara é objetiva-subjetivada e/ou subjetiva-objetivada em qualquer hipótese. Esse processo somente se concretiza por estarmos impedidos de fazer valer nosso pensar livre. Com isso, construímos uma realidade subjetiva no plano individual, ao mesmo tempo em que construímos nossa realidade objetiva no plano exterior concomitantemente. E como se trata de um processo, não há um ponto zero a partir do qual tudo seja subjetivo ou tudo seja objetivo.

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