quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Livre Pensar
Néventon Vargas*

Liberdade para ir e vir, para realizar, para protestar, para divulgar, para pensar... São condições que todo o ser humano almeja para si, mas nem todas são acessíveis a todos. A única que ninguém pode nos impor limites é a liberdade de pensar. Portanto, numa primeira avaliação, quando se fala em livre pensar, conforme tem aparecido em algumas análises, se comete uma redundância porque todo o pensamento forçosamente seria livre. Entretanto, se formos mais a fundo na questão podemos descobrir que a liberdade de pensar não é tão absoluta, assim como as outras formas de liberdade nem sempre têm seu cerceamento imposto por terceiros.
Cabe uma reflexão em torno do auto-aprisionamento em que indivíduos se impõem uma reclusão. Aqui podemos nos referir apenas àqueles que optam por uma vida de total clausura por escolha livre e consciente ou aos que não vêem outra alternativa para sua proteção, defendendo a sua integridade física por ter desenvolvido fobias das mais diversas que não estão em análise no momento.
Quando se fala em pensamento também podemos cogitar que o cerceamento da liberdade não pode ser imposta por terceiros e que, portanto, todos seríamos livre-pensadores. Mas se por um lado ninguém pode ter o domínio absoluto sobre o pensamento de terceiro, por outro, cada indivíduo, sendo senhor de si para pensar, pode se impor clausura mental e se recusar ao uso do raciocínio, preferindo aceitar sem reflexão as idéias prontas e acabadas, como se o universo do pensamento não fosse dinâmico.
Livre pensar não é apenas pensar. Livre pensar é pensar com isenção, sem os condicionamentos impostos pelo tradicional ou por qualquer tipo de dogma. O livre-pensador desenvolve o seu próprio raciocínio, calcado na própria capacidade intelectual e, portanto, deve ter consciência das suas limitações, como também de que o saber é progressivo, sendo natural apoiar-se nas mais diversas fontes, mas nunca tê-las como infalíveis.
O livre-pensador é intelectualmente honesto e não se recusa a analisar uma idéia por mais estranha que lhe possa parecer. Não admite como verdadeiras teses propostas apenas pelo fato de provirem das mais famosas fontes nem tê-las como falsas apenas por terem origem desconhecida.
O livre-pensador pode se dobrar às decisões unânimes, mas nunca se deixará convencer apenas pela unanimidade.
Enfim, todos somos reféns do sincretismo filosófico, religioso ou científico, como resultado de um processo dialético interminável, mas o livre-pensador rompe paradigmas, buscando sempre alternativas possíveis que o levem a novos caminhos com horizontes cada vez mais distantes.
O livre-pensador espírita tem em Allan Kardec uma referência significativa, uma mente brilhante e de bom senso incontestável, mas sem considerá-lo infalível. As anotações d’O Livro dos Espíritos sempre são consideradas com o peso exato de um livro escrito num contexto próprio para o seu tempo e passíveis de revisão conforme os avanços do pensamento humano. As intervenções dos espíritos são respeitáveis, mas tão consideradas quanto as opiniões dos maiores pensadores encarnados.

* Néventon Vargas é Engenheiro Civil; presidente da ASSEPE e Secretário de Comunicação Social da CEPA

Um comentário:

Anotações disse...

Néveton: belíssimo texto. Gostaria de tê-lo escrito. É uma bela introdução ao nosso blog, sem dúvida alguma.