domingo, 28 de outubro de 2012

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Sociedade e Espiritismo: uma renovação necessária

Sociedade e Espiritismo: uma transformação necessária.


“Muitas pessoas pensam, por outro lado, que O Livro dos Espíritos esgotou a série de perguntas de moral e de filosofia; é um erro; por isso, é talvez útil indicar a fonte de onde se pode tirar assuntos de estudo, por assim dizer, ilimitados” (KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP. IDE, 59ª edição, 2001).


* Geylson Kaio


Primeiro, é importante lembrar que o Espiritismo é maior do que a soma de suas partes. Maior do que cada pessoa em particular, do que cada instituição ou segmento espírita organizado.
Quando se afirma que o Espiritismo é uma representação do ensino coletivo dos Espíritos – e aí devemos entender que os Espíritos são seres que povoam o universo e constituem uma das forças da natureza, podendo estar na dimensão dos encarnados ou dos desencarnados – se afirma também, que a construção do ensino Espírita, com base na coletividade, é uma das forças de autoridade do seu movimento transformador.
A sabedoria espiritual de Allan Kardec e a permanente assessoria dos bons Espíritos sempre o colocaram na trilha das idéias progressistas e humanitárias. A sua contribuição pessoal foi tão decisiva e determinante para a nova ordem dos acontecimentos futuros do Espiritismo, que a concepção de uma Doutrina filosófica, de profundas conseqüências éticas e morais, sem as barreiras separatistas da religião, fizeram do Espiritismo uma das ferramentas mais importantes de evolução da humanidade inteira.
O sectarismo e o exclusivismo arbitrário, autocrata, são próprios daqueles que se jactam maiores do que o são. E, neste sentido, Allan Kardec é imune. É imune porque seu pensamento e suas idéias sempre se pautaram pelas bases da ciência da época e pelo bom senso de tudo o que está relacionado ao progresso do Espiritismo. Ele realmente foi o grande iniciador de um movimento de idéias progressistas e transformadoras em assuntos ontológicos, transcendentes, espirituais e sociais.
Quando vemos suas afirmações no livro “O que é o Espiritismo”, por exemplo, percebemos o quanto ele esteve preocupado com o justo entendimento do Espiritismo, que não impõe nada a ninguém, demonstrando que o seu lugar no mundo é o centro, o meio, independente de toda e qualquer questão dogmática. E que o mais importante para um Espírita é a prática do bem. Allan Kardec via o Espiritismo como uma grande potência que revolucionaria o mundo com seus princípios e sua filosofia libertadora. Uma síntese de conhecimentos e princípios espirituais.
Mas aqui cabe uma outra reflexão que se faz urgente para nós espíritas: como renovar o mundo, se não estamos envolvidos direta e afirmativamente nas questões sociais que assolam o planeta? Como construir uma relação harmoniosa com o outro, quando a sociedade em que vivemos está doente? Como estreitar os laços sociais e familiares, se não conseguimos nos libertar do orgulho e do egoísmo avassaladores?
É necessária uma renovação na mentalidade de todos nós que pensamos o Espiritismo apenas nos limites dos Centros e Instituições Espíritas. É necessária uma reorganização do fazer Espírita. É necessária uma maior participação social dos Espíritas nas políticas públicas do país. É necessária uma parceria que vise à totalidade do Espiritismo e não apenas a sua representação simbólica na sociedade. É necessária uma renovação social. Mas antes de tudo, é necessária uma vontade firme de começar mudando a si mesmo. Conhece-te a ti mesmo.


* Geylson Kaio – Psicólogo Clínico; Educador Espírita e Vice-presidente da ASSEPE.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Evidências sobre a existência de Deus

Por Raphael Bortoli

O intuito desse, é demonstrar através da observação da dinâmica do Universo, evidências lógicas e racionais que sustentem a tese da existência de uma inteligência suprema - causa primária de todas as coisas. Muitas evidências são obtidas pela lógica e pela OBSERVAÇÃO e não pela metodologia em si. Basta ver paradigmas científicos tais como o paradigma holográfico de Bohm obtidos através da observação da DINÂMICA da radiação de fundo dos buracos negros.

O método adotado, é ABSOLUTAMENTE O MESMO. Falemos um pouco sobre o paradigma científico vigente. A ciência atual NÃO FORNECE PROVAS IRREFUTÁVEIS DE NADA, pois justamente uma evidência (e não prova portanto) DEVE SER falseável, ou seja, possuir a hipótese de ser contestada, do contrário não se constitui como uma evidência aceita. A isso, se dá o nome de princípio de falseabilidade da hipótese, enunciado pelo filósofo Karl Popper, onde esse não se aplica somente a empírica, mas PRINCIPALMENTE a teoria. Posto isso, vamos a argumentação:

Do nada, nada surge. Para toda e qualquer causa, necessariamente existe um efeito. Para qualquer evento, existe uma ou mais causas, mesmo que a priori não encontremos a(s) mesma(s). O que não quer dizer que essas não existam.

Desse modo, segue-se que para um efeito INTELIGENTE, a causa necessariamente deve ser inteligente, afinal, como dito antes - do nada, nada surge.

Logicamente crer, que a causa PRIMÁRIA, e portanto atemporal, de toda e qualquer inteligência, é inteligente, é muito mais plausível, probabilístico e lógico, de que o nada, ou seja, o INEXISTENTE pode gerar uma inteligência. Se o nada, nada é, como pode produzir qualquer coisa sequer?

Ilógico certo?

Alguns críticos, enunciam a quântica como demonstração de eventos "acausais", como forma de falseamento da tese acima descrita. Demonstraremos a seguir, como tal tese é falaciosa.

A questão do advento da quântica, e a crença nos ditos fenômenos "acausais":

Com o advento dessa, e o surgimento do princípio da incerteza, muitos (erroneamente a meu ver), decretaram a morte da causalidade - crendo na existência de um "acaso absoluto".

Porém, já disse Carl Sagan, ausência de evidência não é evidência de ausência. Desse modo, penso eu ser prematuro afirmar que não existem causas para certos eventos de ordem quântica. Afirmar que os mesmos são fruto do acaso absoluto, é mera questão de fé.

Perguntamos, para contestar tal tese, e em seguida demonstramos:

Com o advento da teoria do caos, da sincronicidade, do paradigma holográfico e a teoria das branas, não cai por terra esse paradigma de eventos acausais?

Penso eu, que com o advento da quântica, a causa e efeito clássica, linear cai por terra, porém não a causa e efeito em si. Essa apenas passa a adquirir caráter de multiplicidade, tal qual a teoria do caos nos diz. O simples fato de TODO o universo estar interligado, em um sistema multidimensional - admite-se que o micro está no macro, e o macro está no micro (princípio holográfico - BOHM, David). Uma ínfima ação, um ínfimo evento proporcionado pela cisão de uma partícula no Universo, acaba gerando efeitos EM TODO O UNIVERSO - embora esses sejam ínfimos também.

Enfim, todo o princípio da incerteza se submete a esse paradigma, a essa causalidade não-linear. Segundo Roberto André Kraenkel Professor do Instituto de Física Teórica da Unesp, a imprevisibilidade de muitos sistemas físicos, como por exemplo a das condições do tempo na natureza, a aleatoriedade quântica e outros fenômenos ditos (sic) "acausais", tem a sua origem no que o físico Poincaré chama de "pequenas causas que nos escapam, mas que determinam grandes efeitos os quais atribuímos então ao acaso".

E é isso que a teoria do Caos analisa a dependência ultra-sensível das condições iniciais. Com o estudo da tese dos atratores no caos, pode-se determinar a participação de cada evento-ser-ente-coisa existente no universo, em relação a outros efeitos gerados a posteriori. Cada ínfima individualidade, atua integralmente no universo, em todos os sistemas. Como dizer que existem então fenômenos acausais? Não podemos. O universo está inteirado interligado, sincronizado, em constante transformação. Dizer "acaso" é mera licença poética atribuível ao senso comum. Afinal no caos, subjaz a ordem.

É o vulgo exemplo do caos, onde uma borboleta batendo asas em Tóquio possui sua parcela de responsabilidade por um vendaval em Nova Iorque gerado após o evento de "bater asas" pela borboleta.

Sendo mais claro:

Se os eventos de ordem quântica estão inseridos dentro de um universo dinâmico, interligado, multidimensional, e os mesmos eventos não são alheios ao universo, como dizer que existem fenômenos sem causa se a própria dinâmica do universo e sua integração plena nos mostra que qualquer evento pretérito acaba influenciando em qualquer evento posterior?

Eu não consigo ver lógica em um evento "acausal", justamente por saber que tais eventos não estão alheios a dinâmica do universo. Para que os mesmos existissem, teriam que ser totalmente isolados do universo, de sua dinâmica e de sua sincronicidade. O que a meu ver - é uma grande utopia.

Recito mais uma vez Carl Sagan: "Ausência de evidência, não é evidência de ausência."

Um exemplo prático:

Dizer que os fenômenos são "ao acaso" não quer dizer jamais que estes não tenham causa, mas sim, que são tantas e inúmeras causas que o desencadeiam que torna-se impossível atribuir a causa específica ao mesmo.

Por exemplo... se eu jogo um dado:

Por que irá dar o lado com a face do número 5? É um resultado ao "acaso"? Sim, o é.

O resultado do dado não é um fator determinístico, pois nunca saberemos que resultado "vai dar".

Doravante, sabemos que os seguintes fatores provavelmente influenciaram para que o dado caísse com o número 5 voltado pra cima:

- Número de vezes que ele girou na minha mão, bateu na mesma, até eu soltá-lo;

- Posição específica em que o soltei;

- Densidade do ar na região em que o dado foi lançado;

- Densidade do dado;

- Um suposto dado não homogêneo, ou seja, de lado mais pesado do que o outro, por exemplo que o lado 3 possua alguma ruptura;

- Energia potencial gravitacional do dado;

- Energia potencial elástica do dado ao contato com o chão;

- Lado com o que o dado se chocou com o chão;

- Número de vezes que o dado girou, em virtude da posição que ele caiu;

- Velocidade de rotação do dado;

E por aí vai... são inúmeras causas, e é impossível determinar todas elas, logo é um evento "ao acaso" , o que não quer dizer que seja um evento "sem causa".

A diferença entre o argumento ontológico...... e o argumento falseável através da observação da dinâmica do Universo:

A priori, vamos expor o argumento ontológico e sua natureza. Se trata do argumento ontológico de Santo Anselmo.

O argumento é assim, e provém do teólogo e filósofo Anselmo de Aosta, publicada em sua obra "Proslogion":

"Et quidem credimus te esse quo nihil maius cogitari possit." - "E cremos que tu és alguma coisa tal, que nada de maior pode ser concebida (pelo pensamento)."

O simples fato de "nós" existirmos, e termos a possibilidade de crer, já implica na existência do "ser ontológico perfeito", por crermos nesse. Veja, é um argumento medieval, pois não trata da dinâmica do universo em si, e não há uma evidência observável, que não seja o argumento ontológico puro e a crença. O argumento ontológico de Anselmo, demonstra a existência do "Ser Supremo", enquanto ens fictionis intra mentis, ou seja, enquanto ente fictício que nós idealizamos e imaginamos. Mas não demonstra a existência desse ser extra-mentis, ou seja, fora da esfera da nossa mente. Resumindo: o fato que exista na mente não quer dizer que exista fora da mente.

Desse modo, o argumento meramente ontológico, apesar de racional e lógico "em si", não é validação da existência de um ser supremo, em TODA a esfera da realidade. Eis o porquê da importância do argumento pautado na realidade tangível e constatável do Universo, para fins de validação em todas as esferas do real.

Demonstrado o argumento observável...... e sua dinâmica, nos resta aprofundar o conceito ontológico acerca da divindade:

Ao fazermos uma análise ôntica e ontológica do ente "Deus", não podemos atribuir qualquer conceito de ATO, não podemos atribuir a esse um conceito de moto-continuum, de mobilidade, de movimento, de submissão ao tempo, propriamente dito.

Toda e qualquer análise ôntico-ontológica que trate de um ente "Absoluto", nos moldes de Deus propriamente dito, requer a esse o caráter de IMUTABILIDADE, cuja submissão ao espaço-tempo não proporciona. Cujo um ser atuante e agente, seja em si ou seja ao seu redor, não compactua. Temos aqui, um impedimento ôntico, quanto a submissão espaço-temporal.

Quanto ao aspecto ontológico, devemos analisar a realidade do ambiente que contém um ente "temporal", "atuante": o espaço-tempo, fornece a todo e qualquer ente-ser submetido a esse, limitações severas conforme a sua constituição. A curvatura do espaço-tempo, é um exemplo disso.

Oras, pode um ser "Absoluto", estar limitado a isso? Creio que não...

Pode-se alegar, que Deus transgride tais leis. Mais oras, qual a lógica de uma transgressão constante de algo sumariamente imutável, que são as leis universais? Qual a lógica de um ser imutável, transgredir um algo também imutável?

Não há...

Sendo assim, creio que NÃO PODEMOS atribuir a divindade o conceito de atuante, e sim o mesmo conceito perpassado de Deus outrora: ATEMPORAL e IMUTÁVEL.

Tal ontologia, resolve ainda o problema de relação de causa e efeito contínua, eterna e infinita, sem se chegar a uma causa "primeira". Veja que há diferença entre causa PRIMÁRIA (atemporal), e causa primeira. Um efeito pode ser uma causa para um outro evento posterior, mas nem toda causa é oriunda de um evento. Basta essa ser ATEMPORAL, não submissa ao espaço-tempo em si.

Desse modo...

... o que nos resta de ontologia, acerca do ser "Deus" e seus atributos enquanto ente imutável?

Deus não cria, pois Deus simplesmente é. Se agisse, ou se criasse, estaria submetido ao espaço-tempo e a sua curvatura, e portanto seria limitado. Nada que é absoluto é limitado. Deus, é a suprema sapiência inativa, potência (e não ato) que proporciona a existência da vida. O fato do mesmo existir, é o que nos proporciona a honra de viver. A natureza da ação, é essencialmente temporal, mutável e por esse fato não é aplicável a divindade.
Somos seres, essencialmente racionais - e somente o mecanismo racional, em si mesmo - é capaz de adentrar as propriedades íntimas de Deus - o Absoluto. A razão lapidada, sobreposta ao instinto e elevada pela intuição, aguçada em si mesma, límpida - livre de falsos juízos a priori - é capaz de penetrar lá. Onde lá? No caminho da onipresença - no espaço propriamente dito - construto e estruturador universal.

A estruturação do espaço propriamente dito é pura vitta, pura sapientiae, pura morale. Lá se encontra a perfeita engenharia divina que nos proporciona a honra de saber que existimos - e o principal: que vivemos e que fomos gerados. E como é isso? Um padrão cíclico cognitivo é atrelado a vida em si mesma angariando ao ser consciência. Não de si, mas da realidade que o cerca. A consciência de si, é temporalmente angariada com a experiência.

Deus...

Escondido no recôndito das galáxias, nos baricentros, perímetros e lumiares do universo e dos berçários estelares ali ele está. Em todos os lugares, ele está. Se justapondo a várias camadas do espaço é e estrutura "o" espaço propriamente dito. Não sendo esse o espaço em si, mas proporcionando a existência do espaço em si. Do tempo, em si. Potência que proporciona as coisas serem, como elas são...

"Às coisas, em si mesmas", como já enunciou o filósofo alemão Edmund Husserl. E como ainda ratifica Heidegger, em sua ontologia fenomenológica.

Concluo:

Oque é um ente sapiente, imutável e absolutamente inespacial?

Deus: Inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

almas congeladas

por Milton R. Medran Moreira*

Publicado na edição do jornal Zero Hora
de 09 de abril de 2008.


Deus fecunda a madrugada para o parto diário do sol, mas nem a madrugada é o sol, nem o sol é a madrugada.

(Do voto do ministro Carlos Ayres Britto, no julgamento da ADI 3.510)

No julgamento em curso no STF da ação direta de inconstitucionalidade da Lei de Biossegurança, entidades religiosas que apóiam o pedido têm feito questão de salientar: os argumentos que as movem não são de ordem religiosa, são científicos. Sustentam - com razão, diga-se de passagem - que o zigoto, biologicamente, já contém todas as informações identificadoras do indivíduo humano a que daria origem, caso a gestação ocorresse. Mas isso não dá resposta a esta fundamental indagação: ali já está presente um ser humano?

Veja-se: retirados que forem de um animal qualquer, humano ou não, uma unha ou um fio de cabelo, estará também ali contido todo o código genético daquele ser. E, no entanto, se poderia atribuir à unha ou ao fio de cabelo a condição humana?

Claramente, os grupos, todos eles identificados com a religião, que se opõem à pesquisa científica com células-tronco embrionárias não o fazem por amor à ciência, mas por respeito à fé. Talvez não tenham sequer coragem de afirmar, mas sua luta nasce da crença de que ali, naquele aglomerado de células humanas, há uma alma. E que essa realidade desloca o tema ao campo da sacralidade, por onde não é lícito ao homem transitar.

Sob o aspecto jurídico positivo, a questão é singela e - tomara! - o voto já proferido pelo ministro Ayres Britto há de ter pavimentado o caminho da decisão final. Cuida-se de definir se ali, naquelas células, há vida humana. A resposta é não. Nosso ordenamento jurídico atribui personalidade humana ao ser nascido com vida. O restante são perquirições, relevantes, sem dúvida, de cunho religioso ou filosófico. Não científicos. E à Corte não caberá firmar a decisão nesse tipo de perquirições que fogem do âmbito da lei.

Mas admitamos - e preferível seria que o fizessem claramente os que pugnam pela procedência da ação - que o móvel do pedido seja exatamente este: o de que ali repousa uma alma humana e que crenças e tradições de um povo devem pesar na decisão. Assim mesmo, é de se considerar que entre nós vigoram, com igual força e respeitável tradição histórica, outras posições acerca dessa substância definida pelas religiões e filosofias como alma ou espírito.

Mesmo que a religião cristã haja, após alguns concílios que lhe deram feição definitiva, fechado questão de que a alma é criada por Deus no momento da concepção, é sabido que nem sempre houve unanimidade na história do cristianismo acerca dessa proposição, feita dogma irremovível, a partir de certo momento. Os chamados padres da Igreja, sob influência platônica, nos primeiros séculos do cristianismo, defenderam abertamente a preexistência do espírito como emanação divina e sua atuação consciente e eficiente no processo da encarnação. Contemporaneamente, no Brasil, milhões de pessoas adotam a crença ou a concepção filosófica da reencarnação, bem mais compatível com os modernos postulados científicos da lei geral da evolução. Esta não influiria tão-somente no campo biológico, mas seria também o dínamo do desenvolvimento consciencial, a partir da hipótese da existência do espírito e de sua independência da matéria.

A partir dessa concepção, moderna e não destoante da ciência, impensável seria imaginar que num conglomerado de células, manipuladas num tubo de ensaio e, após, conservadas por anos em um congelador, repouse uma consciência. Ali ela não poderia ter parado em um processo onde a inteligência voltada a um fim útil e evolucionista haja, de alguma forma, interferido.

Está aí uma reflexão fundamentada numa hipótese viável, filosófica e cientificamente sustentável. Diferente, pois, de um dogma que, para poder influir na formulação das leis e das decisões humanas, precisa se valer de eufemismos que mascaram a velha persistente vontade de que o mundo seja regido pela fé e pelo obscurantismo, em detrimento do progresso e da ciência.

Almas congeladas só podem povoar o mundo mítico de seres que preferem também congelar a fé, mas que não têm o direito de obstaculizar o avanço da ciência. Mormente quando esta contribui para a felicidade humana.

* MILTON R. MEDRAN MOREIRA | Procurador de Justiça aposentado e jornalista; presidente da Confederação Espírita Pan-Americana